Orçamento familiar

Orçamento familiar

2. Orçamento familiar: planejamento financeiro em conjunto

Agora que o diálogo está aberto, mãos à obra: é hora de montar o orçamento do casal. A ideia básica é similar à do orçamento individual, mas com duas fontes de renda e possivelmente mais despesas compartilhadas. Uma das primeiras questões que surgem é: juntar tudo ou manter separado? Cerbasi, em seu livro, defende que casais financeiramente bem-sucedidos tendem a unir suas rendas e patrimônio em um “mesmo bolo” (e muitas vezes até contas bancárias conjuntas). Isso porque enxergam a família como uma unidade econômica – “o que é meu é seu, e vice-versa” – facilitando atingir objetivos mais rápido.

Ele sugere um modelo: somar todas as rendas e, dessa “cesta comum”, pagar todas as despesas da família e poupança para objetivos. Ao mesmo tempo, separar para cada cônjuge uma espécie de mesada individual, de valor igual para os dois, para que cada um tenha liberdade de gastar como quiser, sem dar satisfação. Esse formato mantém a individualidade (cada um tem seu dinheirinho pessoal) com igualdade, mesmo que um ganhe mais que o outro. A mesada evita atritos do tipo “você gastou demais com hobby X” – se está dentro da cota pessoal, tudo bem. Também evita que quem ganha menos se sinta em desvantagem nas escolhas.

Exemplo: Suponha que João ganhe R$5.000 e Maria R$3.000. Juntos têm R$8.000. Eles calculam que, para cobrir gastos da casa + investir nas metas, precisam de R$6.500. Sobra R$1.500, então decidem que cada um terá R$750 de mesada pessoal por mês para gastar no que quiser (roupas, sair com amigos, cursos pessoais etc.). Todos os R$6.500 restantes ficam para as contas comuns e poupança do casal. João não vai reclamar do gasto da Maria no salão, e Maria não critica o que João gastou com videogame, porque ambos usaram suas mesadas individuais. E ambos contribuíram para as contas e sonhos juntos.

Caso haja filhos de relacionamentos anteriores, Cerbasi orienta um ajuste: as despesas com esses filhos devem sair da mesada do respectivo pai/mãe. Ex.: se do exemplo acima João tivesse um filho de outra união que custa R$500/mês em pensão e despesas, esses R$500 seriam considerados parte da mesada de João, para não onerar a renda conjunta de Maria injustamente. Assim, cada um arca com obrigações pessoais prévias de forma equilibrada. Já as despesas dos filhos em comum entram nas despesas da família normalmente.

Mas atenção: unir contas bancárias não é obrigatório. O próprio Cerbasi diz que não é imperativo mesclar tudo em uma conta só, até porque questões práticas ou de trabalho podem impedir. O mais importante é unir o planejamento – ou seja, mesmo que mantenham contas separadas, vocês agem como se o dinheiro fosse um só, distribuindo as responsabilidades de pagamento e investimentos de forma acordada. Muitos casais optam, por exemplo, por ter uma conta conjunta para pagar despesas domésticas, e contas individuais para o que sobra (mesada de cada um). Encontre o arranjo que funcione para vocês, contanto que haja transparência.

Na montagem do orçamento familiar, sigam passos similares aos da parte 1:

  • Listem todas as despesas da casa: aluguel/parcela do imóvel, mercado, contas de luz, água, internet, plano de saúde, educação dos filhos, lazer em família, carro/transporte, etc. Incluam metas do casal (poupança viagem, reserva emerg. familiar, investimento futuro).
  • Some as rendas líquidas de ambos.
  • Verifiquem se a renda total cobre as despesas totais planejadas. Se não, terão que ajustar gastos (ou pensar em aumentar renda).
  • Decidam quem contribui com o quê. Idealmente, se unirem tudo, não importa quem paga qual conta, pois o dinheiro é conjunto. Porém, alguns preferem definir proporções: por exemplo, cada um contribui proporcionalmente à sua renda. No exemplo João/Maria, João ganha ~62% do total, Maria 38%, então João contribuiria com 62% do total das despesas, Maria 38%. Isso é uma opção se quiserem manter certa separação mas dividindo de forma justa pelo nível de ganho. Importante: Cerbasi argumenta que independentemente de quem ganha mais, ambos devem contribuir para as despesas, em vez de jogar tudo para o de maior salário. Por sinal, ele sugere um ponto inteligente: planejem os gastos fixos para caberem no menor salário do casal. Assim, as despesas essenciais ficariam, por exemplo, dentro do salário da Maria (menor renda), e o salário de João cobriria metas e supérfluos. Isso traz dois benefícios enormes: se João (maior renda) perder o emprego, o básico da família ainda se sustenta com a renda de Maria; e evita a situação de “um vive como rico e outro como pobre” sob o mesmo teto – ambos usufruem de padrão semelhante, com equidade. Essa dica de ouro protege o casal de emergências e de desigualdade interna.
  • Incluam no orçamento do casal as mesadas individuais iguais (se adotarem esse modelo). Assim, cada um sabe que depois de contribuírem para tudo, terão aquele valor livre mensalmente, sem precisar “pedir permissão” um ao outro para gastar.
  • Formalizem o plano: pode parecer bobo, mas escrever num papel ou planilha “Plano Financeiro da Família” com quem paga o quê, quanto vai poupar por mês, etc., ajuda a fixar o compromisso. Ambos assinam embaixo – é um acordo mútuo.

Uma vez com o orçamento familiar acertado, execute-o como faria individualmente: pague primeiro as contas essenciais, transfira para poupança/investimentos das metas, e cada um fica com sua parte pessoal. Revisem juntos periodicamente.