Conflitos e diferenças financeiras

Conflitos e diferenças financeiras

6. Lidando com conflitos e diferenças financeiras

Mesmo com um ótimo plano, casais são formados por indivíduos – é normal ocorrerem divergências ou escorregões. O importante é saber resolver conflitos financeiros com diálogo e respeito, sem deixar virar guerras.

Caso 1: Um gasta demais, outro de menos. Um desequilíbrio comum: “meu marido/esposa gasta muito, e eu economizo, isso gera atrito.” Se um dos cônjuges tem comportamento indisciplinado que ameaça as finanças do casal, Cerbasi aconselha agir preventivamente: “quando perceber a ameaça, o casal deve separar as contas”. Pode soar drástico, mas significa criar uma barreira para que o patrimônio comum não seja dilapidado. Exemplo: se um acumulou dívidas no cartão por compras impulsivas, talvez o cartão deva ficar só no nome dele(a), não no do casal, para não sujar o nome de ambos, e o outro ajuda monitorando, mas não se responsabilizando pelas dívidas novas daquela pessoa até que se reeduque. Ao mesmo tempo, conversem e tentem descobrir a raiz do consumo excessivo – terapia financeira ou ajuda profissional pode ser útil. Estabeleçam limites juntos (ex.: metas realistas de redução de gastos desse cônjuge, com acompanhamento mês a mês). Evitem jogo de culpa: culpar e infantilizar o outro (“você não sabe usar dinheiro!”) só piora. Foque em “como podemos melhorar isso juntos?”.

Caso 2: Um assume tudo, o outro é alienado. Outro cenário é quando só um cuida das finanças e o parceiro “deixa na mão dele(a)” por preguiça ou medo de números. Se for consensual e funcionar, ok, mas cuidado: Cerbasi alerta que o cônjuge que delega totalmente pode se tornar dependente demais – e se um dia precisar assumir (por viuvez, separação), estará perdido. Então, mesmo que apenas um seja o CFO da família, o outro deve ser periodicamente informado e envolvido nas grandes decisões. Façam reuniões, mostre onde estão os investimentos, explique o racional. Ambos precisam de noção básica para que nenhum fique vulnerável. Educação financeira é para os dois – quem não gosta de números pode aprender pelo menos o essencial, e o parceiro pode ensinar com paciência. Em caso de resistência, conversem seriamente: “Eu me preocupo que se acontecer algo comigo, você não saiba lidar… vamos aprender juntos.”

Caso 3: Prioridades divergentes. Ex: um quer trocar de carro, outro prefere guardar para casa própria. Nesses impasses, volta à mesa de negociação – releiam suas metas em comum e veja se não dá para equilibrar (talvez trocar de carro em vez de 0 km pegar um usado, liberando recursos para poupar para a casa). Ou definam uma ordem: primeiro juntamos X para casa, depois focamos no carro, ou vice-versa. Ninguém deve impor unilateralmente; busquem um meio-termo. Muitas vezes envolve ceder em algo – faz parte do casamento.

Caso 4: Interferências externas (familiares, amigos). Dinheiro de casal pode esbarrar em terceiros: um empresta muito para parentes, ou gasta com familiares sem consultar o cônjuge. Isso é delicado. A solução é criar regras juntos para essas situações. Por exemplo: “valores acima de R$Y para ajudar alguém, só faremos se os dois concordarem.” Ou “não emprestaremos para familiares, em vez disso damos um valor que não comprometa nosso orçamento se quisermos ajudar, mas sem esperar volta”. Novamente, o diálogo franco é necessário – explique seus sentimentos (apego à família vs. proteção do orçamento) e cheguem a políticas conjuntas. Apresentem essas políticas gentilmente aos familiares se preciso (“temos nossos planos, não podemos ajudar desta vez”, ou “preciso conversar com meu parceiro antes”). Unidos vocês são mais fortes e evitam que terceiros criem discordância entre o casal por dinheiro.

Em qualquer conflito, lembrem-se do objetivo final: vocês estão no mesmo time, buscando estabilidade e prosperidade juntos. Em vez de “quem está certo”, pensem “qual solução atende melhor aos nossos objetivos compartilhados?”. Muitas vezes a resposta virá olhando para aquelas prioridades e valores que definiram lá no início.

E se brigarem, tudo bem – faz parte. Respirem, deem um tempo e retomem a conversa quando as emoções esfriarem. Alguns casais estabelecem que decisões financeiras importantes serão tomadas a dois sem pressa. Se discordarem, deixam a decisão “de molho” alguns dias para cada um refletir e depois voltam a discutir. Isso evita decisões impulsivas tomadas no calor da discussão.